21 novembro 2007

De duas em duas semanas o mundo perde uma língua

Por Estado de Minas
em Jornal da Ciência
31 outubro 2007

A cada 15 dias, em média, uma das 6,5 mil línguas faladas na Terra desaparece com a morte de seus últimos expoentes, que levam consigo enorme conhecimento cultural. Reunidos na capital da Malásia, para tratar do assunto, lingüistas de todo o mundo lamentaram que os países em que esse fenômeno mais ocorre são os Estados Unidos, Canadá e Austrália. Há idiomas na Ásia, também, seriamente ameaçados de extinção.

“Na língua, há um armazém de tesouros do conhecimento humano”, lembrou Nicholas Ostler, presidente da Fundação para as Línguas Ameaçadas, entidade com sede na Grã-Bretanha. “Desse modo, quando uma língua se perde, desaparece para sempre, não são só as palavras que vão com ela, mas normalmente um tipo específico de linguagem.”

De acordo com o levantamento publicado na revista norte-americana Cultural Survival, 89% das 154 línguas tribais remanescentes nos EUA estão sob perigo iminente de extinção, sendo que mais de metade delas só é dominada por pessoas já bastante idosas. No estado de Oklahoma, por exemplo, pelo menos 14 idiomas – o hitchiti, o kaw, o kitsai e o peória, entre muitos outros – já não são mais faladas.

A situação também não é nada boa na Ásia, apesar da grande diversidade cultural da região. Especialistas afirmam que muitos dirigentes não têm interesse no assunto porque querem preservar a unidade nacional. “A diversidade é vista como um fardo para o governo”, disse Ostler.

Na ilha de Andaman, no Oceano Índico, a maior língua local está reduzida a apenas 20 falantes. E em Brunei, segundo os especialistas, os idiomas minoritários devem ser extintos em uma ou duas gerações.

No Paquistão, o siraiki, falado por 40 milhões de pessoas na província de Punjab, está sob ameaça, já que os moradores estão apelando para o inglês e para o urdu em busca de uma melhor posição social e econômica. “Eles sentem que a língua siraiki não tem nada a oferecer”, disse a linguista paquistanesa Saiqa Imtiaz Asif.

Na China, país com quase 1,5 bilhão de pessoas e onde a população se comunica em cerca de 235 línguas e dialetos , a ascensão do mandarim ameaça também enfrenta problema semelhante ao dos EUA, não está imune ao perigo de extinção dos idiomas, com a ascensão do mandarim, disse Picus Sizhi Ding, professor do Instituto Politécnico de Macau.

Não há muitos sinais de esperança, afirmam os especialistas. No sul da Austrália, por exemplo, o povo kaurna, no planalto de Adelaide, vem trabalhando com lingüistas e músicos para retomar a língua kaurna, considerada extinta. “Se a nova geração se interessar por uma língua, talvez ela não tenha que morrer”, disse Ostler.